Carta em resposta ao artigo "Fogo cerrado contra homeopatia"

Carta em resposta ao artigo "Fogo cerrado contra homeopatia"

Agência FAPESP 26/08/05

 

Prof. ª Dra. Leoni Villano Bonamin

Professora e pesquisadora da FACIS-IBEHE

ex-presidente do GIRI

(Groupe International de Recherche sur l´Infinitésimal)

 

No último informe Agência FAPESP, de 26/08/05 ("Fogo cerrado contra a homeopatia"), constam comentários sobre um artigo a ser publicado esta semana na revista LANCET, a respeito de pesquisa clínica em homeopatia. Ao ler a referida matéria, acreditei ser oportuno tecer alguns comentários, os quais gostaria fossem publicados.

 

O trabalho do Dr. Egger (Suíça), embora aparentemente bem estruturado, representa apenas um dentre muitos trabalhos de meta-análise sobre pesquisa clínica homeopática.

Observa-se, na base de dados Medline, a publicação de quase 1000 trabalhos sobre o tema nos últimos cinco anos. Ao analisarmos o conjunto das publicações na área, é notória a contradição dos resultados apresentados: outros trabalhos, igualmente bem conduzidos, apresentam conclusões diversas daquela apresentada por Egger e seus colaboradores, sobretudo estudos experimentais desenvolvidos "in vitro" (1, 2, 3, 4).

 

A questão do curso de homeopatia é muito complexa. Seria temerário, diria até leviano, considerar encerrada a questão com base em apenas um artigo científico, da mesma forma que um estudo apenas não seria suficiente para se afirmar de forma absoluta que a homeopatia funciona e que a questão está resolvida definitivamente.

Estudos clínicos ditos "de boa qualidade", mesmo os chamados RCT (Randomized Clinical Trial) conduzidos em "duplo-cego", nem sempre são suficientes para dissipar a controvérsia do tema, uma vez que normalmente não são desenhados para pôr a prova os princípios básicos da homeopatia, em especial o princípio de similitude, mas são construídos sobre protocolos padronizados para o estudo de drogas cuja ação se baseia na interação "droga-receptor".

Em outras palavras, nem sempre os cientistas estão olhando para o lado certo. Neste caso, uma simples definição inadequada dos parâmetros a serem observados (output) pode significar um grande viés experimental, mesmo que a metodologia apresentada seja considerada de "boa qualidade". Isso é o que ocorre na maior parte dos estudos clínicos sobre homeopatia e também da Fitoterapia. Uma meta-análise destes estudos, portanto, estaria multiplicando tal erro na condução das conclusões.

 

A pendenga, portanto, só teria possibilidade de resolução após a publicação de um número razoável de trabalhos científicos desenhados especificamente para abranger as particularidades do princípio de similitude, tanto na área básica como aplicada, sem, contudo, abrir mão do rigor metodológico necessário.

E esta não é uma tarefa nada fácil. A única solução para um desfecho plausível deste longo impasse seria incentivar a pesquisa institucional e formar pesquisadores na área da homeopatia habilitados para conduzir experimentos dentro desta racionalidade.

 

1. Cucherat M et al. Evidence of clinical efficacy of homeopathy: a meta-analysis of clinical trials. Eur J Clin Pharmacol., v. 56, p.27-33, 2000.

2. Lorenz, I. et al. Influence of the diluent on the effect of highly diluted histamine on basophil activation. Homeopathy, v.92, p.11-18, 2003.

3. Lorenz, I. et al. Sensitive Flow cytometric method to test basophil activation influenced by a homeopathic histamine dilutions. Forsch Komplementärmed Klass Naturheilkd, v.10, p.316-324, 2003.

4. Belon, P. et al. Histamine dilutions modulate basophil activation. Inflammation Research, v.53, p.181-188, 2004.

 

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