A Lógica da Repertorização: Uma Análise Aprofundada

A Lógica da Repertorização: Uma Análise Aprofundada

Em vez de abordar a história dos repertórios, seus planos de construção, princípios de generalização, graduação e suas possíveis falhas e omissões, vamos focar na lógica da repertorização. Abordaremos as técnicas de elaboração de quadros repertoriais que sugerem, de maneira mais eficiente, os medicamentos pertinentes ao caso em análise.

 

É essencial saber o que procurar antes de efetivamente buscar. Isso nos leva à arte da tomada de caso.

 

A forma como se investiga a história clínica homeopática reflete a orientação doutrinária do homeopata, sua visão de enfermidades agudas e crônicas e seu ideal de cura. Evidentemente, isso influencia a lógica de suas repertorizações.

 

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Níveis de Cura na Homeopatia:

 

Primeiro nível:

Envolve a cura de sintomas de forma individual e da condição clínica como um todo. Trata-se da cura clínica.

 

Segundo nível:

Visa a cura da predisposição ao adoecer. Conhecida como cura miasmática.

 

Terceiro nível:

Almeja a cura do indivíduo, fomentando o desenvolvimento pleno de suas capacidades existenciais. Denominada de cura pessoal ou existencial.

 

A vasta maioria dos exemplos documentados sobre curas homeopáticas diz respeito a curas clínicas de estados agudos ou crônicos, analisados de forma transversal, e não longitudinal. Um exemplo seria o Testemunho Clínico de Nash.

 

Para alcançar o primeiro nível de cura, a lógica da repertorização visa identificar os sintomas característicos atuais e os traços individuais do paciente.

No segundo nível, a lógica se baseia em determinar os sintomas que retratam a atividade miasmática e escolher medicamentos conforme sua categorização miasmática, podendo até mesmo deixar de lado os sintomas atuais.

Já para o terceiro nível, a estratégia é identificar os sintomas, frequentemente de natureza mental, que manifestam uma forma peculiar de lidar e reagir ao sofrimento.

 

 

A seleção de medicamentos decorre de uma meta-compreensão da matéria médica e do repertório. A confirmação desse ideal de cura demanda observação ao longo de toda a vida, já que envolve uma transformação existencial, levando o indivíduo a alcançar plenamente suas capacidades e a cumprir os propósitos elevados da existência, conforme o §9 do Organon.

 

A tomada de caso deve ser precisa e abrangente, englobando aspectos presentes e passados da história do paciente.

 

A análise do caso precisa considerar o nível dos sintomas, da atividade miasmática e da percepção do sofrimento do ser. Somente com esse entendimento, podemos estabelecer uma estratégia para a escolha do medicamento, que pode, ou não, incorporar técnicas de repertorização.

 

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Estratégias para montagem dos quadros repertoriais:

 

Método pré-repertorial:

Consiste na busca, na Matéria Médica Pura, de medicamentos que exibam cada sintoma. O foco é diferenciar suas particularidades, selecionando o medicamento que abarque a maioria dos sintomas do caso, com ênfase nos mais distintos e que estejam alinhados à disposição mental do paciente. (Hahnemann)

 

Síndrome Mínima de Valor Máximo (SMVM):

Este método permite uma maior individualização. É necessário estabelecer critérios para formação da SMVM, integrando o método artístico. (Kent)

 

Keynotes:

Baseia-se somente nos sintomas que são peculiares ou raros, diferentemente da perspectiva de Hering sobre o que é característico. As rubricas keynotes são específicas, porém frequentemente não são abrangentes.

 

Combinação das partes dos sintomas:

Este método, proposto por Boenninghausen, combina elementos do sintoma: fenômeno mental, sensorial, funcional ou lesional, localização no corpo, modalidades e os concomitantes.

 

Temática:

Valoriza temas identificados tanto no paciente quanto nos medicamentos, exigindo uma meta-compreensão das patogenesias. (Elizalde, Whitmont, Shankaran, Scholten, entre outros).

 

 

Combinação de sintomas de dois elementos distintos:

Possibilita a prescrição de elementos combinados, como calc-sil., calc-ph., kali-m., kali-p, entre outros. É também conhecido como "Group analysis" (Scholten).

 

Totalidade dos sintomas: Método menos individualizado, sendo mais mecânico. (Kent)

Representações Características da Totalidade (RCT): Substitui a SMVM, representando o conjunto de sintomas/rubricas que auxilia na seleção do medicamento de maneira mais precisa.

 

Critérios para uma eficaz montagem da RCT:

A totalidade dos sintomas é composta por elementos adaptados de Boenninghausen: sintomas mentais (imaginário, afetividade, caráter, intelecto, conduta, modalidades, concomitantes), sensações, disfunções e lesões, localização no corpo, concomitantes, causalidades, modalidades e horários.


Uma RCT deve ser abrangente e proporcional. "Abrangência" implica que deve englobar ao menos cinco representações distintas dos sete aspectos da totalidade. "Proporcionalidade" exige um equilíbrio nas representações de cada aspecto.


A avaliação do resultado da repertorização considerará o grau dos medicamentos em cada rubrica e sua diferenciação direta nas Matérias Médicas Puras e Clínicas.


A graduação dos medicamentos nas rubricas aponta para a frequência de resultados, não para a intensidade do sintoma. Uma pontuação elevada indica maior probabilidade de sucesso, enquanto uma pontuação baixa, mesmo que aponte para uma individualidade e suscetibilidade mais específica, sugere menor probabilidade.

 


Caso de Hahnemann:


Schubertin, uma lavadeira de 50 anos. 1/9/1815. Ela sente uma pontada na boca do estômago, especialmente ao se movimentar ou ao dar um passo em falso.

Esta dor parece vir do lado esquerdo. Ao deitar, não sente desconforto. Ela tem dificuldade para dormir após as 3h da manhã. Tem apetite, porém sente-se indisposta após comer.

Acumula-se água em sua boca, assemelhando-se a azia, e frequentemente eructa após as refeições.

 

 

Análise do Paciente e Lógica Terapêutica de Hahnemann

Sintomas do Paciente:

Temperamento passional (heftigem).


Disposição colérica (Zorn Gemuethe).


Transpiração intensa quando a dor é aguda.


Menstruação normal até 14 dias atrás.


Contexto Histórico: Em 1815, os recursos terapêuticos consistiam no índex de sintomas de 27 medicamentos do "Fragmenta de viribus" de 1805, um esboço manuscrito em latim do "Symptomdictionaries" de 1817, e o primeiro volume da primeira edição da "Matéria Médica Pura" de 1811. Os demais volumes foram lançados entre 1816 e 1821.

 

 

Raciocínio Clínico de Hahnemann:

Sobre o sintoma 1: Embora Belladonna, China e Rhus tox causem pontadas no estômago, nenhum apresenta tais sintomas estritamente com movimento.

 

Pulsatila causa pontadas na boca do estômago, especialmente ao dar um passo em falso, mas não se alinha aos desarranjos digestivos observados nos sintomas 4, 5 e 6. Bryonia, por outro lado, apresenta pontadas em movimento e outros sintomas similares ao caso em questão.

 

 

Sintoma 2: Especificamente alinhado a Bryonia.

 

Sintoma 3: Presente em muitos medicamentos, incluindo Bryonia.

 

Sintoma 4: Encontrado em vários medicamentos como Ign, Nux-v, Merc, Ferr, Bell, Puls, Canth. Porém, em Bryonia, manifesta-se com um desejo de comer.

 

Sintoma 5: Presente em vários medicamentos, mas com características específicas em Bryonia.

 

Sintoma 6: Mais proeminente em Bryonia.

 

Sintoma 7: Bryonia é indicada devido ao estado de disposição do paciente.

 

 

Lógica de Repertorização 1:

 

Dor pontual no estômago agravada pelo movimento.


Alívio com repouso.


Insônia após as 3h da madrugada.


Agravamento ao comer, mesmo pequenas quantidades.


Eructações ácidas.


Eructações vazias.


Temperamento passional.

 


Lógica de Repertorização 2:

 

Localização: estômago.


Natureza da dor: pontada.


Agravamentos: movimento, passos fortes, após comer (especialmente pequenas quantidades), após 3h da madrugada.


Melhorias: repouso, deitar.


Transpiração associada à dor.


Temperamento: passional.