PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DE MEDICINA COMPLEMENTAR (PEK)

PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DE MEDICINA COMPLEMENTAR (PEK)

 RELATÓRIO SOBRE O RELATÓRIO SUÍÇO SOBRE O PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DE MEDICINA COMPLEMENTAR (PEK)

Publicado o relatório final do PEK suíço. Esse estudo objetivava pesquisar a eficácia, propriedade e relação custo-benefício de cinco terapias CAM, a saber, medicina Antroposófica, homeopatia, terapia neural, fitoterapia e medicina chinesa tradicional, praticadas por médicos diplomados. O estudo levou seis anos e custou 7 milhões de francos suíços (4,5 milhões de euro).

Embaixo encontra-se o sumário original do PEK no inglês (o relatório PEK está escrito no alemão e tem resumos no alemão, francês, italiano e inglês). Além disso, são mencionadas algumas considerações acerca das análises e revisões de testes da homeopatia.

Resumo original do relatório final (Schlussbericht)

Histórico: Seguindo a decisão do Departamento Federal de Assuntos Internos (DHA) de 9 de julho de 1998, cinco terapias complementares – medicina Antroposófica, homeopatia, terapia neural, fitoterapia e medicina tradicional chinesa (mais precisamente, fitoterapia chinesa tradicional) – foram incluídas em 1º de julho de 1999, por um período limitado (até 30 de junho de 2005) na lista de serviços cobertos pelo plano compulsório de seguros médicos (KLV).

Esses serviços só podem ser reembolsados se fornecidos por médicos com certificados de proficiência relevante, expedidos pela Associação Médica Suíça (FMH). A decisão acerca se estes métodos complementares deveriam ser mantidos no plano básico de seguros médicos depende da demonstração de sua eficácia, propriedade e relação custo-benefício. Para tanto, o Programa de Avaliação da Medicina Complementar (PEK) foi conduzido de 1998 a 2005.

 

Terapeuta em Homeopatia Integrativa


O objetivo do presente Relatório Final é sintetizar o protocolo e resultados desse programa.

Protocolo do PEK: Num processo por vezes difícil – buscar um consenso entre os representantes de terapias complementares, da medicina convencional e metodólogos – foi definido um procedimento básico, abarcando duas partes.


Na Parte I (avaliação do oferecimento de medicina complementar para pacientes na Suíça), seriam realizados estudos empíricos, permitindo concluir sobre: a) a prevalência das cinco terapias na Suíça; b) quais médicos que oferecem essas terapias; c) quais pacientes estas utilizam; d) quais os resultados alcançados por esses tratamentos; e) qual o impacto financeiro desses tratamentos.

Nos pontos b, c e e foram realizadas comparações com a medicina convencional. Devido a problemas metodológicos e de tempo, contudo, o ponto d não pode ser avaliado.


Na Parte 2 (análise da literatura) seria sistematicamente compilada e revisada a literatura internacionalmente disponível sobre a eficácia, propriedade (aqui primariamente definida nos termos de segurança e utilização) e relação custo-benefício.

Resultados: Em 2002, 10,6% da população suíça utilizou pelo menos uma das cinco terapias complementares, sendo a homeopatia o método individual mais frequentemente mencionado.

Os que aplicam medicina complementar podem ser diferenciados dos médicos que oferecem assistência convencional à saúde em virtude da natureza, localização e recursos técnicos de suas práxis.

Os pacientes que tratam tendem a ser mais jovens, femininos e de nível educativo mais elevado. Esses pacientes tendem a apresentar uma atitude favorável a respeito da medicina complementar e a manifestar formas crônicas e mais graves de doença. Procedimentos diagnósticos técnicos são realizados menos frequentemente, e os desejos dos pacientes são levados em conta mais frequentemente na escolha do tratamento.

Em média, a consulta dura marcadamente mais tempo que na atenção convencional.
Os pacientes estão mais satisfeitos com o cuidado oferecido por clínicas que oferecem medicina complementar.
Os efeitos colaterais são relatados por uma quantidade notavelmente menor de pacientes que no caso do atendimento convencional – excetuando a fitoterapia.

Na medicina complementar, o custo total anual é marcadamente mais baixo que a média no atendimento convencional. Entretanto, os médicos complementares tratam menos pacientes, e estes são mais jovens e do sexo feminino. Fazendo os ajustes para esses fatores, o custo total não difere significativamente daquele do atendimento convencional.

A estrutura dos custos é caracterizada por um peso maior dos custos pelas consultas e um peso menor dos custos por drogas.

 

Formação em Homeopatia

O aumento real nos custos resultantes da inclusão das cinco terapias complementares no programa suíço de atendimento básico em saúde mostrou-se muito menor que o esperado.
Com base da estatística produzida pelo PEK, a questão de se a medicina complementar deve ser considerada como sendo utilizada em adição ou substituição do atendimento convencional, não pode ser definitivamente respondida.

 

Resultados da análise da literatura: A análise da literatura envolveu dois projetos diferentes. (1) para cada uma das cinco terapias complementares, foi preparada uma avaliação abrangente (relatório de avaliação). (2) além disso, foram preparadas meta-análises (revisões sistemáticas, incluindo avaliação estatística de dados agregados) de estudos clínicos controlados por placebos para homeopatia, fitoterapia e fitoterapia tradicional chinesa. Como eram poucos ou nenhum os estudos controlados no caso da antroposofia e a terapia neural, as meta-análises não foram realizadas nesses casos.

 

A respeito do primeiro projeto, a determinação da eficácia foi favorável em todos os relatórios de avaliação. Particularmente no caso da fitoterapia e a homeopatia, esta esteve baseada na avaliação de revisões sistemáticas e estudos clínicos randomizados publicados.

No caso da fitoterapia tradicional chinesa, embora há numerosos estudos randomizados de origem chinesa, são raramente acessíveis nos países ocidentais.

No caso da medicina antroposófica, um número muito limitado de estudos randomizados e um número maior de outros estudos são disponíveis.

Na terapia neural, existe um número muito limitado de estudos randomizados, assim como numerosos relatórios de casos individuais.

Na visão do comitê avaliador, a interpretação da evidência disponível sobre a eficácia nos relatórios de avaliação parece ser excessivamente otimista em todos os métodos revisados, especialmente no caso da terapia neural. A segurança de todas as cinco terapias foi favoravelmente estabelecida, o UPTAKE mostra-se elevado e continua aumentando.

Constelação Familiar

A respeito da relação custo-benefício, existem apenas estudos isolados, que não autorizam conclusões certas. No caso da medicina antroposófica e a homeopatia, há evidência de que o incremento de seus custos é pelo menos compensado por poupanças em outros fatores.

A respeito do segundo projeto, na visão dos autores das meta-análises, os estudos controlados com placebo disponíveis sobre a homeopatia não demonstraram claro efeito acima e além do placebo. Na fitoterapia, ao contrário, demostra-se um resultado positivo, ao igual que no relatório de avaliação, no caso da medicina tradicional chinesa não é possível uma determinação inequívoca.

Aqui também, a validade das conclusões das meta-análises deve ser considerada limitada, de uma perspectiva metodológica.

As conclusões mais importantes a respeito da homeopatia.

O estudo PEK é um tipo de pesquisa de resultados e utiliza componentes de disciplinas científicas bem estabelecidas, como a epidemiologia, a pesquisa clínica, psicometria, economia em saúde e pesquisa em atendimento em saúde. Foca na eficácia percebida.


Este protocolo de estudo evita problemas de outros modelos de pesquisa, bem longe de serem apropriados para um sistema terapêutico individualizado como a homeopatia.

O pressuposto básico deste estudo é que pode se achar evidência indireta da eficácia cientificamente definida do cuidado homeopático é igual àquela do atendimento convencional, sempre que as populações de pacientes sejam comparáveis.

O estudo ainda mostrou que a qualidade do cuidado homeopático era superior à do atendimento convencional.
A diferença não pode ser explicada pela severidade da patologia, porquanto os médicos homeopatas atenderam pessoas crônica e mais gravemente doentes.

Especialmente, a proporção de crianças era excessivamente elevada, cinco vezes mais elevada que no atendimento convencional (24% e 4,5%, respectivamente).
As crianças raramente precisaram ser encaminhadas a pediatras, porque o médico homeopata foi capaz de fornecer os cuidados necessários.

 

Terapeuta em Trofologia

A qualidade de vida (questionário SF-36) e o score de saúde física foram significativamente mais elevados, mesmo após da correção para idade e sexo. Também a satisfação com a relação médico-paciente teve resultados significativamente mais elevados.

A poupança é óbvia: menos procedimentos de grande complexidade e elevados custos, menos encaminhamentos a médicos especialistas e hospitais, menor uso de drogas convencionais, nenhum custo causado por efeitos colaterais sérios, menos absenteísmo.

Os custos do atendimento homeopático foram aproximadamente a metade que no atendimento convencional. Se todos os 269 médicos homeopatas envolvidos nos projetos praticassem medicina convencional, os custos anuais aumentariam em 95-100 milhões de francos suíços (60-65 milhões de euro).

Não foi possível, no escopo deste estudo, calcular a poupança produzida pela menor frequência de encaminhamentos a especialistas e hospitais, a prevenção dos custos produzidos por efeitos adversos de drogas e menor absenteísmo.

Parece que os médicos homeopatas não aplicam a medicina complementar em adição à medicina regular, mas como uma outra forma de atenção primária.

Algumas considerações acerca da revisão e análises de ensaios em homeopatia.

Os autores do relatório enfatizam que a homeopatia, desde sua origem, tem sido baseada em pesquisa empírica e seleção individual de medicamento.

Os estudos padrão geralmente ignoram as regras básicas de a homeopatia e usualmente não têm o menor valor para a prática homeopática real. Em outras palavras, a validação externa é baixa e, portanto, há um grande risco de resultados falso-negativos.

Especialmente os estudos controlados randomizados (RCT), o "padrão ouro", colocam a homeopatia numa situação impossível. A evidência histórica, os relatórios de casos e 200 anos de experiência em milhões de pacientes: esta medicina "suave" não pode nem deve ser totalmente ignorada.

Apesar desses problemas, foi possível mostrar a eficácia e efetividade clínica da homeopatia em numerosos estudos desenhados de acordo com os critérios convencionais.

O relatório inclui uma revisão e análise dos ensaios homeopáticos, baseados numa extensa pesquisa bibliográfica e critérios de qualidade pré-definidos, incluindo ambos revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados individuais.

Terapeuta em Aromaterapia


A seção de avaliação abrangente contém a seguinte informação:


A avaliação incluiu 22 revisões sistemáticas, 10 das quais cobriam homeopatia como um sistema terapêutico completo (vale dizer, sem limitação do tipo de intervenção ou patologia), 7 dos quais a eficácia numa condição médica definida, 3 um medicamento homeopático específico e 2, um certo medicamento homeopático numa condição médica definida. 20 das 22 revisões constataram pelo menos uma tendência a favor da homeopatia. Na visão dos autores, 5 dessas revisões mostravam clara evidência de eficácia.

Com base nas revisões disponíveis, os autores classificam a "eficácia cotidiana" da homeopatia como "provável", numa escala de 3 pontos (provável, questionável, improvável).

Como quase todas as revisões se limitavam a estudos randomizados, cuja relevância é considerada duvidosa para a prática homeopática, foram analisados 29 estudos achados e disponíveis sobre infecções das vias aéreas superiores. 17 estudos eram randomizados, 10 controlados de forma não randomizada e 1, retrospectivamente; um estudo era um relatório de caso individual.

O resultado foi classificado como positivo em 22 dos 29 estudos.


Em 7 dos 14 estudos controlados com placebo, a intervenção homeopática foi significativamente superior, outros 4 estudos mostraram uma tendência similar.


Ao se comparar com a terapia convencional, achou-se uma superioridade significativa da homeopatia em 1 dos 9 estudos, e uma tendência favorável à homeopatia em outros 5 estudos.


A qualidade metodológica, assim como a relevância para a prática real, e a transposição para a situação suíça foram consideradas como limitadas, mas isto não pode levar a uma dúvida fundamental acerca da eficácia da homeopatia na situação clínica do dia a dia.


Os autores apontam que como a maioria dos estudos não tem a menor relevância para a prática real, podem ser considerados como "pesquisa de justificação".
Os autores concluem que há evidência suficiente de sua eficácia clínica.

 

Terapeuta em Fitoterapia e Plantas Medicinais

Enquanto os autores do relatório de avaliação geral concluíram que há suficiente evidência da eficácia da homeopatia, os autores da meta-análise chegaram numa conclusão diferente.

Isto parece bastante estranho, porque ambos os grupos de autores basearam suas conclusões na mesma pesquisa bibliográfica extensa e critérios predefinidos de inclusão, incluindo ambas revisões sistemáticas e ensaios clínicos individuais randomizados.

Na visão dos autores das meta-análises, os estudos controlados com placebo disponíveis em homeopatia não demonstram qualquer efeito claro acima e além do placebo.

A meta-análise foi realizada no Departamento de Medicina Social e Preventiva (ISPM) da Universidade de Berna, sob a direção do Prof. Dr. Matthias Egger.

Em sua análise, 110 estudos de intervenções homeopáticas foram incluídos e cotejados com 110 estudos sobre intervenções convencionais.


Os aspectos e resultados foram sistematicamente extraídos e a qualidade metodológica dos estudos foi julgada com os critérios habituais.


Estudos duplo-cego, nos quais uma randomização adequada (i.e. geração apropriada da sequência de randomização e cegueira do processo de randomização) foi descrita, foram julgados como de elevada qualidade.
Em todos os estudos, o resultado foi inicialmente expresso como uma relação de chances; uma relação de chances = 1 significa que não houve diferença entre placebo e verum, um valor <1 um melhor resultado com o verum e um valor >1, um melhor resultado com o placebo.


A seguir, a heterogeneidade dos resultados do estudo (chi quadrado e índice de heterogeneidade de I2) foi estabelecida, i.e. foi checado se os resultados dos estudos individuais – sob o pressuposto de que todos os estudos medem o mesmo efeito – diferiam mais do que seria esperável com base na variação acidental.


A heterogeneidade dos resultados do estudo, depois de uma categorização esquemática (Higgins et al. Measuring inconsistency in meta-analyses, BMJ 2003; 327:557-560), pode ser classificada como baixa num índice de heterogeneidade I2 de 25%, como média num índice de 50% e elevada, em 75%.


Se uma heterogeneidade média ou mesmo elevada aparecer, significa que ou os estudos medem algo diferente, ou que estão presentes fatores de perturbação, que podem ter falsificado os resultados.
Para se examinar as causas da heterogeneidade de um modo melhor, foram utilizados diversos métodos.
Assim, por exemplo, analisou-se se estudos metodologicamente melhores tinham resultados diferentes que os metodologicamente não tão bons.


Para tanto, a relação de chances de um pool dos melhores estudos foi dividida pela dos estudos não tão bons.
A relação resultante é a "relação das relações de chances" (ROR). ROR =1 Indica que não há diferença nos efeitos desses grupos de ensaios, enquanto que um resultado >1 indica, por exemplo, que os ensaios não publicados exibiram efeitos menos benéficos que os publicados.


Um resultado <1 significa que nos estudos metodologicamente melhores foram reportados efeitos menores.
Acima de tudo, entretanto, procurou-se estabelecer se havia uma conexão entre o tamanho (ou mais exatamente, a acurácia) do estudo e o a magnitude da diferença entre verum e placebo.


O fundamento de este procedimento é o seguinte: se há, por exemplo, 10 estudos que avaliam um preparado de erva de São João em pacientes similares com depressão leve a moderada, os resultados devem flutuar apenas levemente ao redor do efeito "verdadeiro".


Como a coincidência tem um papel muito pequeno nos estudos mais grandes, estes devem medir o efeito verdadeiro, numa forma particularmente confiável.


Ao contrário, os resultados de estudos mais pequenos flutuam muito mais amplamente ao redor do valor verdadeiro, vale dizer, em alguns estudos o efeito é superestimado, e em outros, subestimado.


Representando graficamente os resultados de um tal grupo de estudos, resulta a bem conhecida figura de um funil.
Se uma imagem claramente assimétrica resultar, habitualmente é interpretada como "viés de pequeno estudo", i.e. os estudos mais pequenos obtém uma imagem distorcida do efeito.


Frequentemente, estudos pequenos negativos não são publicados (viés de publicação) ou deve-se a uma superestimação do efeito, devida a erros metodológicos.


Há numerosos exemplos na literatura baseados nestes vieses do pequeno estudo.
Portanto, nas análises do ISPM esses funis foram utilizados e a assimetria observada foi quantificada num quociente.

Os autores do estudo do ISPM sustentam que, se os resultados dos estudos individuais são heterogêneos e há evidência de que os estudos maiores e/ou melhores disponíveis fornecem resultados diferentes dos fornecidos pelos estudos menores e/ou piores, fazer o pool (meta-análise) de todos esses estudos é problemático.
Como se assume que os estudos maiores e melhores fornecem resultados mais confiáveis, só este subgrupo foi utilizado para a análise principal acerca da questão da eficácia comparada com o placebo.

Adicionalmente, foi estimado, com a ajuda de métodos estatísticos (meta-regressão), o efeito esperado em grandes estudos virtuais. Os resultados mais uma vez foram representados como relações de chances, completados com um intervalo de confiabilidade de 95%.


Se isto excluir o valor 1, a diferença entre verum e placebo é estatisticamente significativa.
Os estudos biomédicos foram analisados da mesma forma. Foram utilizados como checagem de comparação, para checar se nas intervenções convencionais amostras semelhantes se manifesta como nos procedimentos complementares.

A qualidade metodológica dos estudos homeopáticos e convencionais era similar, na grande maioria, embora os estudos homeopáticos tendiam a apresentar uma qualidade superior: 19% dos estudos homeopáticos e 8% dos convencionais foram classificados como de "qualidade mais elevada".


Na maioria dos estudos, as relações de chances foram <1, vale dizer, um melhor (nem sempre estatisticamente significativo) efeito do verum.


A heterogeneidade dos resultados do estudo foram claros nas intervenções homeopáticas (índice de heterogeneidade Ide 65%), e ainda mais pronunciada nos estudos convencionais (Ide 77%).
O funil de ambos os grupos de estudos era claramente assimétrico, vale dizer, os estudos menores mostraram efeitos maiores.


Nos estudos metodologicamente melhores, os efeitos em ambos os grupos era claramente menor (ROR 0,62 e 0,61).
Fazendo um pool com os 8 estudos metodologicamente melhores mais grandes homeopáticos, não houve efeito significativo em relação ao placebo (relação de chances 0,88, 95% intervalo de confiabilidade 0,65-1,19).
Nos seis maiores estudos convencionais metodologicamente melhores, obteve-se um efeito significativo (0,58, 95%, 0,39-0,85).


Quando os efeitos foram estimados em grandes estudos virtuais, os estudos homeopáticos não mostraram efeito significativo (0,96, 95%, o,73-1,25), mas os convencionais sim (0,67. 95%, 0,48-0,91).
Os autores concluem que os resultados apoiam a hipótese de que os efeitos clínicos, ao contrário dos efeitos da medicina convencional, são efeitos placebo ou de contexto inespecíficos.

Os autores admitem que a conclusão da meta-análise contradiz o estudo de avaliação, mesmo que a literatura pesquisada seja idêntica.


O principal motivo desta contradição é que os resultados predominantemente positivos dos estudos, que foram confirmados na meta-análise, foram interpretados como confiáveis no estudo de avaliação, mas não na meta-análise.


Os autores mantêm que podem ser encontrados argumentos para ambas as posições, e que a questão acerca de qual a posição mais estimada, pode ser fortemente influenciada pelos "preconceitos" respectivos (‘do ponto de vista científico convencional, a homeopatia não tem um mecanismo plausível de ação’) e prioridades metodológicas.
Parece improvável se chegar num consenso aqui.


Em sua conclusão os autores admitem que a falta de plausibilidade não pode ser considerada evidência de ineficácia.


Nem é um critério estrito na medicina baseada em evidências.

A Associação Suíça de Médicos Homeopatas (SVHÄ) critica severamente o relatório e afirma que o estudo tem erros graves.


Em primeiro lugar, o estudo inclui exclusivamente RCTs, que é o método mais inadequado em intervenções mais complexas, como as homeopáticas.


A validação externa é virtualmente zero.


Não se esclarece em absoluto quantos estudos singulares (e quais) mostraram um resultado positivo ou negativo/inconclusivo e como foram determinados esses resultados.


O estudo do ISPM não revela quais foram os 8 grandes estudos homeopáticos de elevada qualidade selecionados e utilizados para a meta-análise.

 

No funil os autores traçam uma linha dos estudos de tamanho pequeno e médio para os poucos grandes, mas menos eficazes.


No caso da homeopatia, essa linha tende mais para a linha do placebo que a da alopatia.


Desta forma, o número muito maior de estudos positivos leva para um resultado negativo.


De fato, o resultado negativo da homeopatia tem sido produzido por uma extrapolação estatística a partir de uns poucos estudos grandes.

A SVHÄ mantém que o método do funil, com sua forte ênfase no tamanho do estudo, pode estar justificado na pesquisa das intervenções homogêneas padronizadas da terapia farmacológica convencional, mas não é apropriado em estudos homeopáticos, com sua heterogeneidade e complexidade, pelos seguintes motivos:


1) Os estudos abarcam uma variedade de modelos de estudo e abordagens homeopáticas que simplesmente não podem ser classificados juntos;


2) O método do ISPM só seria adequado para a verificação de modelos similares de estudo ou intervenções homogêneas;


3) De regra, quanto maior o estudo, menor a chance de que esteja avaliando-se uma homeopatia correta, o que implica que menor a validação externa;


4) Os estudos homeopáticos correm o risco de falsos negativos por causa de sua pobre validade para a prática real.

No contexto destas formas distorcidas de homeopatia, há tentativas com resultados positivos e outras, com resultados negativos.


Um resultado negativo apenas significa que o modelo para se provar a eficácia não é válido.
Os resultados positivos e negativos não podem cancelar-se uns aos outros.


A evidência de eficácia como formas distorcidas de homeopatia só pode servir como um exemplo.

Buscando grandes estudos que provavelmente tenham sido utilizados para a meta-análise do ISPM, podem ser achados os seguintes:


 Attena et al. (1995), que foi incapaz de demonstrar a ação preventiva de Oscillococcinum em 1595 indivíduos;
Ferley et al. (1987), que obteve o mesmo resultado com um medicamento homeopático complexo em 1182 indivíduos. Embora em alguns outros grandes estudos foram obtidos resultados positivos (Ferley et al. Em 1989 em 487 indivíduos, Rottey et al.

Em 1995 em 501 indivíduos, Papp et al. Em 1998 em 372 indivíduos e Diefenbach et al, em 1997 em 258 indivíduos), os resultados negativos excedem o resultado positivo dos outros no método do funil.
Um outro estudo de 1306 escolares na Índia não demonstrou qualquer efeito de Euphrasia C30 numa epidemia de conjuntivite (Mokkapatti et al. 1992).

Vickers et al. Em 1992 não puderam demonstrar qualquer efeito preventivo nem terapêutico de Arnica D30 no dolorimento muscular depois de corridas de longa distância (519 indivíduos), contra um estudo anterior de Tveiten.

A SVHÄ, em sua crítica, se pergunta por que o quadro clínico sempre foi tratado com um remédio padrão e por que com esse em particular.


Em quais indivíduos e em qual medida correr longas distâncias produz sintomas que requerem algum tipo de tratamento?


Do ponto de vista biomédico, este tipo de estudos pode ser válido, mas do ponto de vista homeopático são de baixa qualidade, não representativos e inaceitáveis.


Este tipo de estudos forçam a homeopatia dentre de desenhos padrão que não têm relação com a prática real.
Fica sem esclarecer se os remédios poderiam tido efeito em estudos específicos. Os estudos são tentativas dúbias para se demonstrar o efeito das altas potências.


A única conclusão possível é que o desenho do estudo não é adequado para a homeopatia, e não que a homeopatia é ineficaz (falsos negativos com baixa validação externa): a ausência de evidência não significa evidência da ausência!
Do ponto de vista científico, é inadmissível e relapso querer provar a ineficácia da homeopatia a partir de um pensamento estatístico unilateral que não leva em conta os princípios básicos da homeopatia.


Além do mais, surge a questão de se a extrapolação estatística para se eliminar fontes de erro não se torna ela mesma numa fonte de erro.


De todos modos: a conclusão científica que a ISPM extrai de uma extrapolação e generalização inadmissíveis de tais estudos é imensa!
Totalmente negligente e cientificamente insustentável.

Um outro ponto de preocupação é que a ISPM não inclui nenhum experto do campo homeopático.
Só em janeiro de 2005 que expertos homeopáticos tiveram acesso á meta-análise, o Diretor da ISPM, Prof. Egger, repetidamente tem afirmado sua convicção de que a homeopatia não pode ser eficaz porque seu mecanismo de ação é implausível.


Não parece ser esta uma posição livre de vieses.

 

A decisão das autoridades suíças.

Embora a homeopatia e outras terapias CAM se tenham provado positivas na relação custo-benefício e possam poupar milhões de francos suíços no orçamento da saúde, o governo suíço decidiu excluir todas as terapias CAM do plano de seguro médico compulsório a partir de 30 de junho de 2005, para insatisfação da comunidade CAM (desde 1999 eram reembolsados sob o plano de seguro compulsório de saído para os fins do estudo PEK).


O motivo: não há evidência científica a favor da eficácia da homeopatia. Só os seguros optativos de saúde cobrirão as despesas CAM.

As autoridades suíças – ambos o governo e a Secretaria Nacional de Saúde (BAG) – inicialmente tentaram esconder os resultados do estudo PEK sob o tapete.


Uma conferência marcada para abril de 2005, onde seriam apresentados e discutidos os resultados do estudo PEK, teve que ser cancelada porque a BAG suprimiu a publicação dos dados do estudo.


Alguns dos colaboradores foram forçados a apagar todos os dados relacionados ao PEK de seus computadores.
Uma reunião final de Conselho de Revisão internacional, com 6 professores da Suíça, Alemanha, Dinamarca e o Reino Unido – responsáveis pela qualidade científica do estudo PEK -, que seria realizada em junho de 2005 para realizar a avaliação final do projeto, foi cancelada.


A recomendação no rascunho final, de que homeopatia, medicina antroposófica e fitoterapia deveriam continuar no plano de seguro compulsório de saúde, foi apagado da versão finalmente publicada.
Mais tarde o governo permitiu que alguns dos relatórios fossem colocados no website da BAG e que os arquivos de dados ficassem disponíveis no escritório da BAG em Berna.

Não surpreendentemente, o establishment médico não ficou nada satisfeito com os resultados do estudo PEK.
Já por volta do final de 2004, numa conferência da Academia Suíça de Ciência Médica, alguns professores das faculdades de medicina concordaram em fazer o impossível para evitar que CAM permanecessem no plano de seguro médico compulsório (até mesmo iriam "lançar granadas").

Obviamente, os médicos CAM não aceitaram passivamente.


Todas as associações de médicos CAM têm apresentado um pedido oficial para que se incluam as CAM no plano de seguro médico compulsório.



Uma iniciativa da opinião pública intitulada "Sim à medicina complementar" já tem recebido 145.000 assinaturas.
Uma pesquisa em março de 2005 revelou que 87% da população suíça quer que as CAM sejam reembolsadas pelo plano de seguro médico compulsório e que 31% consultou um médico CAM pelo menos uma vez nos últimos 12 meses.
Um membro do parlamento suíço tem questionado o governo a este respeito. (Continuará...)

 

Na homepage da Associação Suíça de Médicos Homeopatas (http://www.svha.ch) há vários artigos interessantes sobre a forma como as autoridades suíças (governo e BAG) e o establishment médico têm lidado com os resultados do estudo PEK (a maioria no alemão, alguns em francês).

Relatório de Dr Ton Nicolai, ECH, Presidente

Junho de 2005.