Homeopatia Veterinária : Estratégias de ação

Homeopatia Veterinária : Estratégias de ação

Este é um texto escrito originalmente para veterinários homeopatas, mas que, entretanto, pode ser útil a todos clínicos homeopatas.

    Uma das maneiras de se analisar a Homeopatia Veterinária é através das estratégias de seus profissionais nos seus diversos campos de sua ação.

    A Veterinária tem uma particularidade muito interessante: a atuação de seus profissionais se dá em áreas "conflitantes".

 

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    Ao mesmo tempo é (1) responsável pela saúde humana, tanto ao cuidar quanto ao prevenir doenças em animais; é (2) responsável por cuidar dos animais de estimação de humanos; e é (3) responsável pela fiscalização da qualidade dos produtos de origem animal, principalmente alimentícios; e (4) também é um dos responsáveis pelo bem-estar de todos animais que o homem tem sob seu controle, inclusive os de zoológicos e parques.

    E as estratégias de ação do veterinário não são as mesmas nas várias situações.

    Enquanto no caso (2) a individualização do ser tratado, mais que um desejo, é uma das coisas que aumentam, e muito, as chances de sucesso no tratamento, nos casos (1), (3) e (4) muitas vezes é uma impossibilidade completa. E isso sempre foi um problema para a implantação da Homeopatia principalmente no setor veterinário de produção de alimentos, que é o caso (1) e (4).

    Mas não é um impedimento real.

    Na ocasião de uma consulta, sinais e sintomas podem tanto serem coletados de um grupo de animais da mesma espécie ou de um indivíduo quanto da doença de grupo de animais ou de um indivíduo, nos dois casos se fazendo a chamada Homeopatia Populacional.

Embora se note que coletar e utilizar os sintomas e sinais característicos e/ou bem modalizados em um indivíduo ou em um grupo possibilita uma atuação homeopática mais profunda do que a utilização dos sintomas e sinais só da doença de um indivíduo ou grupo. Isso apesar do fato que sintomas muito bem modalizados de doenças possam ser individualizantes. Ou mesmo utilizando os dois grupos de sintomas e características.

    Na Homeopatia, a coleta de sintomas caracterizantes de um indivíduo, ou de um grupo, é mais interessante que só a coleta dos sintomas da doença deste indivíduo ou grupo.

    A possibilidade de se trabalhar com um grupo abre as portas para o tratamento populacional através da homeopatia veterinária. E esse fato é extremamente importante quando se fala de animais de produção.

    E quando se fala do controle dos produtos de origem animal, se fala de propriedades orgânicas certificadas, em que não só a qualidade do produto animal que saí dela é verificada, mas também de bem-estar animal.

    A partir daqui, faremos uma análise de dois grandes grupos: o dos animais de companhia e/ou de alta produtividade e os de produção, considerados enquanto coletivo.

    O individual contraposto ao coletivo.

 

    A Homeopatia possibilita ao veterinário diversas abordagens para a manutenção e restabelecimento da saúde animal, mas o que deve se ter sempre em alta conta quando se usa Homeopatia: que ela está sendo usada como uma terapêutica que faz o organismo agir por si só e não uma terapêutica que age no organismo se contrapondo a alguma ação dele ou mimetizando substâncias que ele mesmo produz (como na alopatia). Nesse sentido, mais do que nunca, o meio que o rodeia e sua interação com outros indivíduos deve ser considerado, além do que o predispõe geneticamente a doenças, seja por espécie, seja individualmente.

    Também é importante ressaltar que cada espécie, e muitas vezes raças, terá que ser tratada diferentemente, já que ao contrário de uma terapêutica que usa doses ponderais de medicamentos (como na alopatia), a Homeopatia é altamente espécie-específica e/ou raça-específica.

Os resultados que se obtém com uma população de uma mesma espécie ou raça podem eventualmente serem extrapolados para outra população da mesma espécie ou raça. Isso porque o meio ambiente e sua alteração genética influenciam muito. Mas a extrapolação de resultados de uma espécie a outra é altamente especulativa e deve ser feita com cuidado.

    Outro aspecto importante da Homeopatia é ela poder ser usada tanto de forma curativa quanto preventiva. E isso é mais marcante quando se fala de rebanhos, já que são grupos de indivíduos mantidos juntos, artificialmente, com um alto nível de stress, na maioria das vezes com um alto grau de modificação genética e que no seu ambiente contam com a presença inevitável de doenças endêmicas.

    Nesse tipo de situação o tratamento individual somente é pouco efetivo, mesmo com Homeopatia. Envolve toda uma população e uma alta interferência do meio ambiente na saúde dessa população. Essa interferência, infelizmente, não pode ser removida só através de medicamentos tradicionais ou vacinação. Usar um manejo efetivo e consciente é essencial, mas a Homeopatia pode também ajudar de outra forma.

    Existem, nesses casos, fatores desencadeantes de doença presentes junto à população, em seu meio ambiente, o tempo todo.

E embora não seja possível esperar que um manejo homeopático vá acabar com a sensibilidade e a suscetibilidade dessa população e desses indivíduos a esses fatores desencadeantes, um bom manejo da propriedade, aliado a um manejo homeopático bem conduzido pode reduzir a disposição aos fatores que o levam a isso.

Ou em outras palavras, aumentar o limiar da população a essas doenças. A predisposição à determinadas doenças do rebanho ou do indivíduo possivelmente não serão alteradas, mas os fatos que o(s) dispõe(m) a essas doenças, sim.

Animais de companhia e/ou de alta produtividade

    Aqui via de regra ocorrem situações onde o alto valor, seja afetivo e/ou econômico, dá a nota regente. É um tratamento individualizante.

 

 

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    Na consulta, vale tanto o que o proprietário relata, quanto o que o veterinário observa do animal. E ele TEM que ser apto a bem observar o animal.

    Pode inclusive atuar em problemas de senilidade, comportamento, etc. Ou seja, pode ser usada como uma terapêutica preventiva e/ou de manutenção.

    Mas há alguns problemas: Os veterinários de pequenos animais estão acostumados a extrapolar vários resultados obtidos com humanos à cães e gatos, por exemplo.

Mas isso só pôde ocorrer por que há muito tempo se observou que essa extrapolação era possível. E também é necessário ressaltar que essa extrapolação funciona muito mais com os caninos do que com os felinos, em razão das motivações dos caninos permitirem isso.

Mas não é possível querer sucesso na clínica antropomorfizando o animal, ou seja, transpondo literalmente as motivações humanas para os animais. Podemos usar como guia, mas não como sendo iguais. Para isso é imprescindível o estudo de comportamento animal e etologia da espécie tratada. Assim como o estudo de ecologia para os que tratam de animais silvestres.

    Com os animais de alto valor econômico, o conhecimento das características da espécie, da raça, de seu manejo apropriado é imprescindível.

Animais de produção

    É o tratamento de populações. Analisa-se o rebanho, suas características de espécie e raça, fatores do meio ambiente. Também pode ser usada tanto preventivamente como para curar, quanto para manutenção de qualidade de vida para doenças incuráveis.

    Ela melhora a qualidade do rebanho, principalmente se for feita junto com uma melhora do manejo da propriedade como um todo.

    E é de grande utilidade na pecuária orgânica, entre outros motivos, por não deixar resíduos tóxicos nos produtos de origem animal. E por agir diretamente no bem-estar animal.

    Mas essas intervenções deverão ser feitas por um tipo especial de profissional veterinário, que mesmo sendo homeopata não é necessariamente igual ou mesmo semelhante a outro. Então, o que seria um profissional homeopata no campo?

O que é um homeopata: uma visão do ponto de vista da agropecuária

    Inicia-se pela descrição dos profissionais que estão envolvidos no trabalho rural e que são habilitados a clinicar, os agrônomos e os veterinários.

Os agrônomos podem usar a Homeopatia para cuidar das plantas, pois no Brasil são eles os legalmente habilitados para tratar de doenças em plantas em propriedades rurais. E os veterinários podem usá-la para cuidar de animais doentes ou para fazer uma veterinária preventiva e evitar doenças.

    No Brasil são os veterinários os legalmente habilitados para tratar animais doentes.

    E qual a importância de se ressaltar isso?

    Muitos consideram como um privilégio elitista se restringir o uso da Homeopatia aos profissionais clínicos.

    Não é.

    Embora existem alguns leigos que cuidam exemplarmente de animais de produção a este nível, são os clínicos habilitados que tem uma formação adequada para avaliar a fisiologia e a fisiopatologia de um animal, para ter noção do que o animal sofre, o que usar para curá-lo e como acompanhar a evolução do quadro clínico. E fazer o que os leigos não conseguem fazer, e que é o mais importante, ‘acompanhar a evolução do quadro clínico’.

    Esse tipo de avaliação é o ‘pulo do gato’ de um bom clínico. Exige um tempo e um enorme esforço desprendido para se tornar um bom profissional.

    É cabível comentar que casos simples de doença podem ser resolvidos por um leigo, mas em casos complicados as chances de algo dar errado são enormes. Isso, juntamente com outro problema: como se pode avaliar se o problema de saúde do animal, ou do plantel, é simples ou não, se não se tem formação para este tipo de análise?

    Além de usar uma terapêutica homeopática para cuidar de seus doentes, o veterinário homeopata pode atuar de três maneiras em uma propriedade rural :

1. Quando é chamado para tratar de algum animal doente, atuando como autônomo ou como contratado da propriedade, como ocorre comumente com os veterinários em geral. E nesse caso pode ser tanto simplesmente um veterinário que usa uma terapêutica homeopática, quanto um veterinário homeopata.

Estão nessa situação a maior parte dos veterinários que utilizam a Homeopatia e que atuam no campo.

2. Quando faz um trabalho preventivo em uma propriedade, fazendo o que chamamos de ‘tratamento populacional’. Atua fazendo um planejamento do manejo de rebanhos, de maneira a tornar esta população mais saudável e com isso menos sensível e suscetível a doenças. Nesse caso é imprescindível um veterinário homeopata. Profissionais para este tipo de atuação ainda são minoria no panorama dos veterinários que utilizam a Homeopatia do Brasil.

Sua formação demanda mais tempo e se faz necessário que o veterinário tenha feito um bom curso de Homeopatia Veterinária. Curso esse que de preferência tenha em seu currículo "clínica de grandes animais", em que ele deve ter tido obrigatoriamente uma sólida formação teórica sobre Homeopatia em geral.

3. Quando se integra a uma equipe multidisciplinar, com agrônomos, zootecnistas, etc., de maneira a planejar ou reorganizar uma propriedade para a obtenção de ‘certificação orgânica’. Ou mesmo para que a propriedade tenha uma orientação ‘orgânica’, visando um aproveitamento mais racional e funcional da propriedade como um todo. Nesse caso é essencial um veterinário que seja homeopata. E este é um profissional ainda mais difícil de se achar, pois além de ser necessário que tenha o que foi descrito no item dois, precisa saber fazer planejamento em equipe.

    E se torna necessário detalhar melhor o que seria um veterinário que usa a terapêutica homeopática e o que seria um veterinário homeopata.

O primeiro é um veterinário que usa a medicação homeopática da mesma maneira que usa outros tipos de medicação e sua avaliação da evolução do quadro clínico também é a mesma que ele usa para os outros tipos de terapêuticas/medicamentos.

Já o segundo tipo é um veterinário que fez um curso de Homeopatia Veterinária, onde teve uma formação teórico-prática em Homeopatia. E ele não só usa a terapêutica homeopática, como toda sua visão de doença e evolução para a cura é baseada na teoria homeopática. Seu olhar para uma propriedade e para o animal não é mais o mesmo, já que ele não procura mais só os mesmos problemas que um veterinário de formação tradicional procuraria.

    O veterinário homeopata se insere muito bem na área da agropecuária orgânica, não só pelo tipo de atuação profissional que ele tem, como pelo fato de a Homeopatia ser uma terapêutica que não deixa resíduos no animal.

    Porém não só as propriedades orgânicas, mas todas as propriedades rurais envolvidas em criação animal podem e poderiam se beneficiar deste tipo de profissional.

    No panorama da Homeopatia Veterinária no Brasil, os veterinários homeopatas de pequenos animais ainda são franca maioria. Os que tratam de eqüinos e de animais de produção ainda são em pequeno número, mais aos poucos estão aumentando, tanto em virtude da procura pelos proprietários, cooperativas e órgãos certificadores orgânicos, quanto pelo próprio interesse dos proprietários e dos veterinários.